TEMPO
tempo...
substantivo magro, malogro masculino,
amálgama desatento com delicadeza áspera
de cheiro de chuva na terra
madeira verde no fogo
memória do pó, da pedra, do excremento,
escarafuncha
o chão
dos horizontes findos
a poeira é a
do amestrador de silêncios
são lírios
de sons em asas líquidas, escorre
- de joelhos, contrito –
pelos tijolos lúbricos,
engonços, rachaduras,
ternuras e vilezas
no frontispício do momento súbito,vago, poliédrico
de ave, de peixe, de amante, tronco ou árvore
ontem
: voeja
flor de corte e solo misturado
: finca
no coração ardor de prego
em brasa no palor líquido, incompressível
nos ângulos dos vôos livres
mas fibrila
a tarde amarela, agiganta
- repentino - o que por bem tinha calado
ou feito pequenino
e é por isso
é por isso que há tempos
no tempo eu exista assim
inclemente, impenitente, verbo velho,velhaco,
insubsistente
paisagem assimétrica, monturo,
mutante (incoerentemente sempre menino)
na espiral constante da embriaguez adunca que ora é pressa
ora é eternidade
ora não passa nunca
Foto de Carlos Savasini
ERNANI FRAGA, paranaense de Campo Mourão, é advogado formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo/SP. Atuou como ator nas peças A Falecida, de Nelson Rodrigues, e Fando e Lis, de Fernando Arrabal, ambas sob direção de José Luiz Sconi; e na peça infantil Um elefantinho incomoda muita gente, de Oscar Von Phul, sob direção de Luis Camargo; Foi membro de Marcas Nossas – Grupo de Arte, tendo publicado, em parceria com Sueli de Souza e Edson Natuesper, o livro Marcas Nossas, cujos poemas deram ensejo à montagem do espetáculo Recital Noturno nº 1, levado à cena pelos próprios poetas na Casa de Chá Erva Doce,